Artigos

Narradores – por Orlando Fonseca

Aprendi a gostar de futebol, através da narração radiofônica. Naquele tempo, entre os anos 60 e 70 do século passado, foi pela voz marcante de locutores como Pedro Carneiro Pereira e Armindo Antônio Ranzolin que construí meu imaginário futebolístico. Tinha uma pálida ideia do que seria a representação espacial do jogo, movendo botões com nomes de jogadores sobre um tabuleiro verde com marcações de linhas em branco. Havia um goleiro com um dispositivo que a gente movia por trás da goleirinha com rede de plástico. Antes de ver uma partida em campos de várzea, nos estádios do Periquito ou do Coloradinho, aprendi a enxergar o jogo pelas palavras.

O advento da TV, com transmissões diretas, modificou consideravelmente a forma de narrar. Eu só passei a assistir jogos pela TV com a copa de 70 – que começo! Em função de haver o apoio da imagem, os narradores começaram a economizar suas falas, óbvio. Deixei de ouvir jogos pelo rádio, que ainda continua a ter o seu modelo narrativo de sempre. Mas o que me motiva a falar nesse assunto é que tenho percebido algo que me incomoda. O modo de apresentar os jogos dos narradores televisivos está mudando. E não é para melhor. Em relação a ter havido transformações no rádio com a chegada da TV, no momento não há nada que indique necessidade de mudar o modo como um Luciano do Vale – sempre lembrado – faria nos anos 80. A interação via internet, com manifestações de espectadores através de redes sociais – para o meu gosto – mais atrapalha do que ajuda. Não estaria aí o problema.

O que acontece, hoje em dia, é que há narradores que parecem querer fazer parte do espetáculo. Viraram comentaristas para além da narração que deveriam estar fazendo. Têm necessidade de mostrar que conhecem o esporte, são um arquivo vivo da história (como se não houvesse Google), conhecem as regras, os problemas de saúde esportiva, enfim. Fazem de tudo para atrapalhar o andamento daquilo em que deveriam se ater: descrever a ação do jogo.

O comentário está tomando conta, junto com os comentaristas. Aliás, nas transmissões de TV há três, além dos repórteres e as inserções da interatividade. E aí é que vem o chato: nas intervenções deixam passar jogadas que eu gostaria de ouvir a ênfase, de saber se foi ou não foi – uma falta, um lateral – se merece cartão. O que me leva de vez em quando, como bom torcedor, a imaginar que estão de má vontade com meu time. E o que é pior: comentarista que toma por base o senso comum para fazer o seu trabalho. Ora, deixem isso pra mim, que não sou especialista, que não ganho para ser comentarista nem treinador. Quero que me digam algo para além do raciocínio que sou capaz de fazer.

No entanto, tenho pouca expectativa em relação a mudanças. Falei genericamente de propósito: há narradores de televisão excelentes, só que são exceções. Minha expectativa é que a tecnologia deverá resolver isso. Em breve estaremos usando TV com imagem 3D e haverá um algoritmo em algum programa, capaz de anunciar o nome dos jogadores, analisar as jogadas para dizer o que foi e o que não foi em tempo real. Isso só vai me incomodar se eu perceber que os comentários a favor de um dos times são favorecidos pelo patrocínio, de algum pagamento escuso.

DE FATOS E DIVERSÕES

– Temer não é exemplo pra nada, mas ele se acha. Em entrevista para o Roberto D’Ávila, disse que é ruim para a Previdência ter-se aposentado cedo. Pra mim, e para o bem de todos, teria sido melhor que continuasse aposentado da política.

– O governo Temer se apressa em promover reformas na CLT, retirando direitos históricos dos trabalhadores. Até mesmo a sigla passará a ter novos significados: de agora em diante quer dizer Cortes nas Leis Trabalhistas.

Ménage à trois pode ser considerada terceirização na vida de um casal? Porque Ricardão já é uma espécie de terceirização afetivo-sexual.

– Tem coisas que não poderão ser terceirizadas, por exemplo, profissionais com segundas-intenções.

– Próximas ações de investigação da Polícia Federal: corrupção no setor de panificadoras, será a Operação Mão na Massa; propina no setor de cervejarias: Operação Desce Redondo, ou Puro Malte; no setor de transportes e logística: Operação Carga Pesada ou Na Banguela; desvios na malha ferroviária: Operação Fora dos Trilhos; falsificações na produção farmacêutica: Operação Placebo ou Tarja Preta.

– Depois da lista do Janot, a Lava Jato bem que poderia passar a se chamar Lança-Chama.

– A reforma política que está sendo gestada no Congresso, tende a ser um aborto político. Em uma das propostas há uma contradição em termos: “votação em Lista Fechada”, pois não se coaduna com “eleição de Ficha Limpa”.

– Sem querer ofender: time que está na segunda divisão pode terceirizar?

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo