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A negação da sociedade na “liberdade” antivacina – por Leonardo da Rocha Botega

“Negacionistas da vacina são hoje o maior empecilho para superar a pandemia”

Desde a última semana tem circulado pelas Redes Sociais um vídeo que mostra um protesto antivacina em uma cidade dos Estados Unidos. Nas imagens vemos uma manifestante que ao ver um morador de rua pergunta: “estão vendo esses moradores de rua? Por acaso estão morrendo de Covid?” Na sequência ela mesma responde: “claro que não” e arremata com um “Por que será?” Eis que o próprio morador de rua responde: “eu tomei vacina, imbecil!”

Apesar de nenhuma das vacinas indicar 100% de eficácia contra a Covid-19 (a maior parte das vacinas contra outras doenças também não tem essa garantia), a realidade tem demonstrado no mundo todo o quanto os casos e os óbitos vem diminuindo nas regiões com números significativos de vacinados.

Inversamente, os casos e os óbitos avançam nas regiões onde os índices de não-vacinação são altos. 

Nos Estados Unidos, especialistas em saúde da Casa Branca têm alertado que, apesar do significativo número de vacinados, o país tem vivenciado uma “pandemia entre os não vacinados”.

Os casos mais preocupantes são os dos Estados de Mississippi, Wyoming e Louisiana, onde, respectivamente, somente 51%, 52% e 55% dos adultos se vacinaram. Índices bem abaixo do índice nacional de 70% de adultos totalmente imunizados.

Na Alemanha, o aumento do número de casos em regiões onde o índice de não vacinados é alto levou o governo a adotar medidas de restrições para as pessoas não imunizadas. Na Saxônia, local com forte presença de grupos antivacina, a taxa de incidência é de 491,3 casos para cada 100 mil habitantes, mais que o dobro do resultado nacional.

No Brasil, pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), por meio da plataforma InfoTracker, indicou que 96% dos casos de internações são de pessoas não vacinadas. O Instituto Butantã, por sua vez, chama atenção para o fato de que, em seis meses de vacinação, os óbitos diários por Covid-19 no país diminuíram em 90%.

Porém, mesmo com a realidade demonstrando o contrário, os grupos antivacinas seguem firmes seja nos Estados Unidos, na Alemanha ou no Brasil. Um dos principais alvos destes grupos tem sido a exigência de passaporte para o ingresso em atividades com número significativo de pessoas. O argumento, na falta de dados concretos, tem sido uma ideia abstrata de liberdade.

Segundo esta ideia, a liberdade é um fenômeno profundamente individual. Sem relação ou responsabilização coletiva. Uma premissa que liga diretamente o argumento do negacionismo antivacina ao hiperindividualismo neoliberal. Partindo de uma perspectiva do ser humano como um sujeito egoísta e competitivo, teóricos como Hayek e políticos como Margaret Tatcher, chegaram ao limite de negar a própria existência do social e da sociedade. Uma negação que se tornou a concepção das “novas” extremas-direitas por todo o mundo e que casou perfeitamente com os grupos negacionistas antivacinas.

Não à toa a maior parte desses grupos se reivindica como sendo de direita ou extrema-direita. Uma ideia que rompe inclusive com os preceitos do contrato social proposto pelo liberalismo político clássico. Se, como disse Tatcher, “não há sociedade, somente indivíduos e suas famílias”, não tem sentido falar em sociedade civil ou em sociedade política fundada em um pacto social de busca do bem comum.

Sem sociedade não tem sentido um bem comum, apenas um bem individual, que pode ser entendido como não querer tomar vacina. Dessa forma, o sujeito antivacina, hiperindividualizado, se outorga no “direito” de não apenas fragilizar sua saúde, como também colocar em risco os demais indivíduos em sua volta.

Ególatras, egoístas, presos em uma abstrata liberdade licenciosa, os negacionistas da vacina são hoje o maior empecilho para que a Pandemia seja definitivamente superada. É a verdadeira bomba viral que violentamente nega a vida e fortalece a morte. É o sujeito a ser contido. É o sujeito cuja vida social dever ser restringida. O direito de ser imbecil (como bem definiu o morador de rua estadunidense) não está acima do direito à vida.

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

Nota do Editor. A foto (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é uma reprodução do vídeo aludido no texto, sobre o morador de rua (sentado), nos Estados Unidos. Ela foi extraída do site da revista IstoÉ (AQUI)

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Um Comentário

  1. Não moro nos EUA. Mais de um milhão de imigrantes ilegais vivem na Alemanha. Entre 500 mil e um milhão no UK. Se aparecerem para tomar vacina correm risco de serem presos e deportados. No mais, a ‘sociedade’ que vá se fornicar.

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