Artigos

Loira boazinha – por Máucio

O cara, com jeito de moleque, estava num bar supertradicional da cidade junto com dois amigos. Na verdade eram colegas de faculdade, deviam ter por volta de uns 20 anos.  O happy hour era uma característica forte daquele lugar. Outra era ser freqüentado por uma faixa etária bem ampla, homens e mulheres de várias idades.

O controle ferrenho que a proprietária fazia para manter o estabelecimento nos eixos surtia efeito a ponto de, com freqüência, se observar mulheres desacompanhadas, sem que nada as importunassem.

Nesse anoitecer, lá pelas 20 horas, adentra no pedaço uma loira que, como se dizia antigamente, era de parar o trânsito – hoje o trânsito pára por motivos bem menos nobres. O gurizão, protagonista dessa história, quase teve um torcicolo. A mulher era alta, cabelos compridos, levemente ondulados. Sua blusa de renda, esvoaçante,  acompanhava os movimentos do seu corpo. Em vez de solicitar uma mesa, a madame  foi direto ao balcão e colocou-se de modo que ficara de perfil para o olhar do nosso herói. Na verdade, todo o bar sentira a presença, só que alguns ¨mudaram de assunto¨ para não provocar a ira das companheiras ou só pra disfarçar mesmo. Claro que as mulheres todas já haviam analisado de cabo a rabo, literalmente, a concorrente implacável.

O garoto quase adolescente, lá pelas tantas, cismou que a loiraça havia lhe cruzado um olhar. O que uns goles de cerveja não fazem! Mas manteve-se quieto com a informação, para não alarmar os gansos. Passou então a olhá-la de soslaio de minuto a minuto. Às vezes parecia-lhe que ela correspondia, às vezes lhe dava a entender que seu olhar simplesmente passeava por todos os lados, acompanhando um pensamento. Transcorreu um quarto de hora com essa dúvida cruel, pensou em se levantar e ir ao encontro, mas o medo lhe puxava junto à cadeira, afinal o que um mulherão daqueles poderia querer com ele? Noutros segundos, no entanto, sua autoconfiança ungida pela força etílica dizia-lhe que realmente ela estava lhe flertando.

Uns minutos depois, a esplendorosa paga sua cerveja direto no balcão, e sai porta afora, deixando rastros de perfumes e luzes no corredor do boteco. O piá pensou, é agora ou nunca! Deu uma desculpa qualquer e levantou-se com pressa da mesa, dizendo já volto aos amigos. Quando chegou à calçada do bar, viu a deusa terminando de entrar em seu automóvel, fechando a porta. Ainda conseguiu perceber um pedaço de sua blusa preta sendo recolhido para não se enganchar. Ajudado pelas três cervejas que tomara – duas depois que ela chegou – se encorajou, e aproximando-se bateu na janela do veículo: oi! A loira olhou pra ele e, com uma expressão serena e bondosa, baixou o vidro do carro lentamente e lhe alcançou uma moeda de 1 real, agradecendo-lhe.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo