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Grande guerra, pouca paz – por Orlando Fonseca

Este ano de 2018, marca o centenário do final da Primeira Guerra Mundial. Nada a comemorar. O fim de uma conflagração bélica deveria significar paz, tempo de enterrar os mortos, curar as feridas e reerguer os países. Se pensarmos que, apenas 21 anos depois, teve início a Segunda Guerra Mundial, mais devastadora que a primeira, podemos entender que este interregno pouco serviu para propósitos elevados de afirmação humanística. Podemos tirar deste evento, olhando desde o quadro político-econômico global da atualidade, a lição de que estamos mais propensos à barbárie do que à civilização. Por interesses patrimoniais, pelo lucro crescente, denega-se rapidamente o cuidado com o futuro das nações, as prioridades com o ser humano e com a nossa casa, o planeta Terra.

Antes daquele conflito identificado como Primeiro, as guerras envolviam um povo contra o outro, um país contra o outro. Por envolver várias potências imperiais, indicou-se com um sobrenome qualificativo o envolvimento do continente europeu, com amplificações pelas colônias na Ásia, África e América do Norte. Ao longo do século XIX, a revolução industrial fez crescer o capital financeiro e a integração entre nações que estavam em franco processo de industrialização. Tais interesses geraram alianças políticas, como as realizadas entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, na Tríplice Aliança – que também procurava envolver o Império Turco-Otomano; por seu lado, a Inglaterra, um dos maiores impérios da época, se aliava à França e à Rússia, formando a Tríplice Entente. Em nome dos interesses envolvidos por estes blocos, o ataque fatal de um estudante sérvio contra o arquiduque Francisco Fernando da Áustria desencadeou um conflito de dimensões jamais experimentadas pela humanidade até então.

A guerra é a celebração da estupidez humana. Na dimensão individual, quando faltam argumentos racionais, apela-se para a força bruta. Entre as nações, quando falha a diplomacia, os tratados cordiais, os acordos gerados pelo entendimento, as forças bestiais do povo são convocadas para pegar em armas e atentar contra o vizinho. Seria nossa vocação primordial o convívio em paz? Quero dizer, quando o homem deixou de viver em cavernas, quando aprendemos a usar a linguagem e estabelecer diálogos, não seria este o caminho para a elevação do humano? Isso que os filósofos contrapõem quando falam em barbárie x civilização. Segundo a alegoria Bíblica da Torre de Babel, quando se uniram para atingir o divino e fugir dos desastres naturais – o dilúvio – perceberam que falavam línguas diferentes e não conseguiram mais unir esforços para nenhum dos dois propósitos daquela construção. Logo após o fim da Primeira Guerra, iniciou-se a construção de uma entidade global, a Liga das Nações, que se constituiu no embrião do que hoje conhecemos como ONU. Mas pode chamar de Neo-Torre-de-Babel.

Assim como a Liga das Nações não impediu a segunda guerra, duas décadas depois, a ONU também não conseguiu se contrapor à Guerra fria, de forma que os seus sintomas ainda podem ser sentidos nas trocas de farpas entre Trump, Putin, coreanos e chineses, para ficar com as potências atômicas do planeta. Aliás, talvez como parte involuntária das comemorações do referido centenário é que o Boletim dos Cientistas Atômicos da Universidade de Chicago anunciou quanto tempo falta para o Juízo Final. No final do mês passado, o ponteiro do tal Relógio do Apocalipse foi adiantado em 30 segundos. Faltam agora dois minutos para a meia-noite, graças aos tuítes de Trump e os testes de Kin Yong-un, dois célebres representantes da estupidez humana.

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