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A menina que queria cantar jazz – por Bianca Zasso

amy-winehouse-posterCom a proximidade da entrega do Oscar, que ocorre no próximo dia 28, sites, revistas e colunas voltadas para o cinema recheiam suas páginas com comentários sobre os favoritos e os azarões. O menino e o mundo, de Alê Abreu, é o pezinho brasileiro na festa da Academia, O Regresso pode garantir a tão sonhada estatueta para Leonardo DiCaprio e Creed – Nascido para lutar pode pagar a dívida que o prêmio tem com Sylvester Stallone por ter esquecido Rocky – Um lutador em um canto qualquer em 1977. Num ano de indicados com direções de arte primorosas mas pouco conteúdo empolgante, um documentário espera silencioso por, quem sabe, uma vitória digna.

Amy, dirigido pelo inglês Asif Kapadia (responsável pelo ótimo Senna), já era assunto antes mesmo de chegar às telonas. É compreensível. Contar a história de um dos maiores talentos musicais do nosso tempo, a cantora e compositora Amy Winehouse, é uma tarefa complexa. Sua vida, tanto artística quanto pessoal, foi acompanhada pela mídia com intensidade desumana desde que a canção Rehab chegou ao topo das paradas.

Chover no molhado seria fácil e Amy poderia virar uma coleção de pessoas comentando os abusos de drogas da moça e seu inegável dom para falar de amores complicados usando sua voz intensa. Mas Kaspadia fez de Amy um filme sobre a menina judia de riso fácil e amizade fiel. A paixão pelo jazz, a alegria que cantar nos pequenos pubs lhe proporcionava e a importância de dividir com quem se gosta suas conquistas. Somos apresentados a uma Amy Winehouse alegre, de bochechas rosadas e com necessidade de afeto. A ausência do pai, que mais tarde faria da filha sua fonte de renda, é um trauma que a inglesa jamais superou. Aliás, é o fruto de todos os seus problemas.

Julgar e ridicularizar as aparições da cantora no auge do vício parece brincadeira comum. Onde alguns (idiotas, diga-se de passagem) viam piadas, Amy dava seu grito de alerta. Isso porque, ao contrário de alguns colegas de profissão, ela não queria a fama, mas sim a oportunidade de expor suas canções para o público. Sem alarde. Sem flashes. Sem repórteres na porta de casa.

A opção por contar a trajetória de Amy por meio de vídeos caseiros e depoimentos de amigos e familiares foi certeira. Ao abandonar o formato da entrevista programada e utilizar apenas o áudio colabora para emocionar ainda mais o público. Não estamos falando de melodrama barato, mas da força que a imagem de Amy tem ao ser mostrada junto com as vozes que lhe acompanharam durante todo o caminho. Temos o pai arrogante, o namorado interesseiro pelo qual ela tinha verdadeira obsessão, as melhores amigas, o empresário, o guarda-costas confidente. E, é claro, a própria Amy se questionando e soltando a voz em canções de cortar o coração.

Há quem acredite que Amy é sobre uma menina que caiu nas armadilhas da fama. Diante dos olhos que ilustram o cartaz do filme e depois de duas horas de exibição, podemos acreditar que a armadilha estava na própria Amy: sua fragilidade para lidar com as consequências que seu talento trouxe. Ela era uma menina que queria cantar jazz. E cantou, pena que por pouco tempo.

Amy
Ano: 2015
Direção: Asif Kapadia
Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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