Memorial: desfazer a ruína e construir a memória – por Jorge Pozzobom

Desfazer a ruína e construir a memória. Essa expressão reforça a construção coletiva entre a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), a qual consolida um compromisso que fiz desde 2017, quando assumi a Prefeitura de Santa Maria: construir um memorial em homenagem às 242 pessoas que perdemos naquele 27 de janeiro de 2013, além dos mais de 600 feridos e seus familiares e amigos.

Passados mais de 10 anos, nesta semana, demos um passo importante nessa história. Publicamos o edital de licitação para a obra do Memorial, que será construído no local onde funcionava a casa noturna, na Rua dos Andradas, nº 1.925. Serão 383,65m² de área total construída, distribuída em um único pavimento, que inclui escritório, sala multiuso, auditório, banheiros masculino e feminino, acessos ao auditório, depósito, área técnica, varanda e jardim. O prazo para entrega, a contar da assinatura da ordem de serviço, é de 240 dias (8 meses). O documento com os critérios para as empresas interessadas já pode ser conferido no site da Prefeitura.

Queremos que Santa Maria tenha um lugar que represente a saudade, a empatia e o acolhimento que os familiares das vítimas merecem. Não podemos esquecer de tudo o que vivemos naquele dia. No entanto, há algo importante que podemos fazer: transformar aquelas ruínas em um local de reflexão e aprendizado. Por isso, cada passo para essa construção é tão importante.

Em julho de 2017, no início da minha gestão, o prédio da Boate Kiss foi desapropriado, com demolição prevista já para 2018, contudo, a pedido dos familiares, em função do julgamento em curso e de todos os seus desdobramentos, ainda não ocorreu. Mesmo assim, não desistimos de ressignificar aquele local.

Ainda conforme o edital lançado no último dia 4 de dezembro, os envelopes com os nomes das empresas interessadas serão abertos no dia 5 de janeiro para, então, partirmos para as outras etapas dessa construção. O projeto está orçado em R$ 5,45 milhões, com recursos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL), do Ministério Público do Rio Grande do Sul, e do Executivo Municipal. E, claro, como tenho afirmado, essa obra não irá parar por falta de recursos. Se faltar, o Executivo fará o possível para completar.

Estamos dando continuidade a um compromisso da nossa gestão, que é o de resolver todas as questões que envolvam a tragédia da Kiss e que estejam dentro da competência da Prefeitura. Sabemos que é um caminho longo e árduo, do qual nunca iremos desistir por entender que temos a obrigação de honrar as vítimas e os familiares.

Não se trata de esquecer ou apagar o luto. Meu desejo, não apenas como prefeito, mas como um santa-mariense que chorou naquele dia 27 de janeiro e como amigo de tantos pais que perderam seus filhos, é que o Memorial se torne um local de homenagens, amor, esperança e conscientização. Afinal, tragédias semelhantes, em locais públicos, infelizmente, ainda continuam a acontecer. Com o apoio de todos, juntos, iremos desfazer as ruínas para construirmos a memória.

(*) Jorge Pozzobom é o Prefeito Municipal de Santa Maria. Sua trajetória como agente político começou com dois mandatos de vereador, tendo depois se alçado, pelo voto popular, à Assembleia Legislativa. Em meio ao segundo período, em 2016, foi eleito para conduzir o Executivo santa-mariense. Em novembro de 2020 foi reeleito para novo mandato. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: as artes que ilustram este artigo são da Motta e Zene Engenharia e Arquitetura.